15/08/2025 18h06 ⟳ Atualizada em 15/08/2025 às 18h06
Quando os termômetros despencam na Serra Catarinense e a paisagem se cobre de geada, muitos pensam apenas no charme do inverno e no turismo de frio. Mas, para quem vive do campo, essa queda de temperatura é muito mais do que um atrativo: é um elemento decisivo na produção de um dos principais produtos agrícolas da região — a maçã.
São Joaquim, junto a outros municípios serranos, consolidou-se como uma potência na fruticultura de clima temperado no Brasil. As variedades Gala e Fuji, especialmente esta última, ganharam fama nacional e internacional, não apenas pelo sabor e aparência, mas por um detalhe que não pode faltar: o frio.
O papel do frio no ciclo da macieira
Durante o outono e o inverno, as macieiras entram em um estado chamado dormência. Para sair desse período de forma saudável e produtiva, elas precisam acumular o que os técnicos chamam de “horas de frio”, ou seja, um número mínimo de horas com temperaturas abaixo de 7,2°C. Esse acúmulo é essencial para que a planta desperte no momento certo e floresça de forma uniforme na primavera.
Sem esse frio, o florescimento se torna irregular, resultando em menor produtividade, frutas desuniformes e, em casos extremos, perdas significativas na colheita.
Segundo pesquisadores da Epagri, as principais variedades cultivadas na região exigem entre 600 e 1.200 horas de frio durante o inverno. E é justamente o clima serrano — com sua altitude elevada e temperaturas negativas frequentes — que garante esse requisito natural, transformando a Serra Catarinense em uma das poucas regiões do país com condições ideais para a produção de maçãs de alta qualidade.
Sabor, cor e excelência
Além de garantir a produtividade, o frio também influencia diretamente nas características sensoriais da maçã. As noites frias no final do verão e início do outono estimulam a formação da coloração avermelhada, característica especialmente valorizada nos mercados consumidores. A combinação de noites frias e dias ensolarados favorece também o acúmulo de açúcares naturais e o equilíbrio da acidez, resultando em frutas mais doces, aromáticas e suculentas.
Essas condições específicas garantem à maçã da Serra não apenas um sabor diferenciado, mas também uma identidade própria, reconhecida por meio da Indicação Geográfica (IG) da Maçã Fuji da Região de São Joaquim — um selo de origem que valoriza o produto, os produtores e a história local.
Uma força econômica para a região
A fruticultura, especialmente a cultura da maçã, é uma das bases da economia serrana. Ela gera milhares de empregos diretos e indiretos, movimenta o comércio, impulsiona o turismo rural e fortalece a agroindústria.
Com mais de 3 mil hectares cultivados apenas em São Joaquim, a produção de maçãs envolve centenas de famílias, técnicos, engenheiros agrônomos e trabalhadores sazonais. Além disso, o setor contribui para a fixação do homem no campo, o desenvolvimento tecnológico e a valorização da agricultura de precisão.
O frio como marca registrada
Se para os turistas o frio da Serra é sinônimo de lareiras acesas, vinhos e paisagens encantadoras, para o agricultor ele é sinônimo de esperança e produtividade. É o frio que molda o caráter da fruta, que sustenta famílias, que dá sabor às colheitas.
A maçã serrana é, em muitos aspectos, o reflexo do próprio território onde nasce: forte, resiliente, de beleza única e com uma história marcada pela dedicação de quem planta, cuida e colhe.
Em cada inverno rigoroso, há a promessa de uma primavera cheia de flores e de uma colheita farta. Porque aqui, na Serra Catarinense, o frio não é obstáculo — é o segredo.