19/09/2025 09h51 ⟳ Atualizada em 19/09/2025 às 09h51
Se a maçã brasileira conquistou espaço nas mesas e mercados do mundo, grande parte do mérito está na pesquisa conduzida pela Epagri. A empresa pública catarinense, vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária, completa em 2025 meio século de atuação e carrega em sua trajetória a história da fruta que mudou a economia do estado.
Da importação à exportação
Até a década de 1980, o consumo no país era abastecido quase exclusivamente pela variedade Red Delicious, conhecida como “maçã argentina”. A virada começou nos anos 1970, com o Profit (Projeto de Fruticultura de Clima Temperado), executado pela então Empasc, que mais tarde se fundiu a outras instituições e originou a Epagri.
As primeiras pesquisas foram realizadas nas estações experimentais de Caçador e São Joaquim, adaptando cultivares ao clima catarinense e abrindo caminho para o sucesso da produção local.
Das variedades estrangeiras às cultivares catarinenses
Segundo o pesquisador Marcus Vinicius Kvitschal, mais de 500 variedades estrangeiras foram testadas até se chegar às combinações que resultaram nas variedades mais populares hoje: Fuji e Gala.
Além da genética, a Epagri desenvolveu tecnologias de manejo, indução de brotação e pós-colheita que permitiram superar as limitações do clima e garantir frutos de alta qualidade. “Sem esses avanços, seria impossível ao Brasil produzir mais de um milhão de toneladas por ano”, afirmou Kvitschal.
Reconhecimento internacional
O trabalho científico consolidou a maçã catarinense como referência mundial. A variedade Fuji de São Joaquim recebeu Indicação Geográfica, e novas cultivares criadas pela Epagri, reunidas sob a marca Sambóa, já são cultivadas em outros países.
O sabor doce, a coloração intensa e a qualidade dos frutos ajudaram a abrir portas em mercados exigentes da América Latina e do Oriente Médio.
Números que impressionam
O Brasil alcançou a autossuficiência em maçãs em 1998. Hoje ocupa a 12ª posição no ranking global de produção, segundo a FAO, com cerca de 1,2% do total mundial. Santa Catarina é o grande protagonista desse cenário, respondendo por:
-
51% da produção nacional;
-
43,7% das exportações brasileiras, que em 2023 movimentaram US$ 24,11 milhões.
Na safra 2024/25, o estado colheu mais de 482 mil toneladas, com destaque para as variedades:
-
Fuji (57,3%);
-
Gala (40,7%).
Transformação regional
O cultivo da maçã também mudou a realidade de cidades catarinenses. Fraiburgo tornou-se referência na fruticultura empresarial, enquanto São Joaquim impulsionou a agricultura familiar por meio de cooperativas, fortalecendo a economia e a identidade regional.
Com meio século de pesquisa, a Epagri não apenas ajudou o Brasil a conquistar a autossuficiência, mas colocou Santa Catarina no mapa mundial da maçã — um exemplo de como ciência, inovação e trabalho conjunto podem transformar a agricultura.