Existem em circulação ao menos seis subtipos, chamados de cepas, do novo coronavírus. Foi o que mostrou o maior estudo sobre a sequência genética do vírus que causa a Covid-19 (SARS-CoV-2). As conclusões sobre o trabalho realizado por cientistas da Universidade de Bolonha, na Itália, foram publicadas no periódico Frontiers in Microbiology recentemente.
A constatação deles é que as mutações do vírus desde o primeiro registro em humanos — no fim de 2019, em Wuhan, na China — são favoráveis para o desenvolvimento de vacinas e medicamentos.
Após analisar 48.635 genomas completos do SARS-CoV-2, o grupo identificou, em média, 7 mutações. O vírus influenza, por exemplo, tem mais do que o dobro disso.
Identificação das cepas
A primeira cepa identificada do SARS-CoV-2 foi a L, oriunda de Wuhan. No início de 2020, houve a primeira mutação, para a cepa S. As duas continuaram em circulação.
Posteriormente, surgiram as cepas V e G, sendo que esta última se transformou em duas linhagens: GR e GH.
A cepa G e as linhagens GR e GH são as mais difundidas no mundo, segundo o estudo, representando 74% de todas as sequências genéticas analisadas.
“Elas [cepas G, GR e GH] apresentam quatro mutações, duas das quais são capazes de alterar a sequência das RNA polimerase e proteínas spike do vírus. Essa característica provavelmente facilita a disseminação do vírus”, explica Federico Giorgi, coordenador do estudo.
A proteína spike é a parte da coroa do vírus por onde ele se acopla a receptores localizados nos pulmões humanos, chamados ACE2.
No Brasil
No Brasil, a cepa GR representa em torno de 75% dos coronavírus já sequenciados, conforme o banco de dados de genomas Gisaid, utilizado pelos pesquisadores italianos.
Outro fato curioso abordado no estudo é que a cepa L, de Wuhan, começa a desaparecer, assim como a V.
A linhagem L já não predomina mais na Ásia, onde os tipos G, GH e GR estão aumentando.
Elas chegaram ao continente asiático apenas no início de março, mais de um mês após a propagação na Europa.
Os cientistas italianos ressaltam que, além das principais seis cepas do SARS-CoV-2, algumas mutações pouco frequentes foram identificadas, mas que não são preocupantes, embora devam ser monitoradas.
“Mutações genômicas raras são menos de 1% de todos os genomas sequenciados. No entanto, é fundamental estudá-los e analisá-los para que possamos identificar suas funções e monitorar sua disseminação. Todos os países devem contribuir para a causa, dando acesso a dados sobre as sequências do genoma do vírus”, acrescenta o coordenador do estudo.