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Homens e mulheres se dispõem a serem padrinhos afetivos de crianças e adolescentes e possibilitam uma vida diferente, com manifestações de carinho e afeto, além das paredes do abrigo. Em Lages, oito crianças e adolescentes ainda esperam por um padrinho.

A função dos padrinhos, seja no casamento ou batismo, é cuidar e ajudar. Em Lages, além dessas duas formas, existe uma terceira. Para muitos, ainda desconhecida, mas para outros é a manifestação do carinho, amor, afeto e oportunidade de convivência familiar e comunitária. No projeto de apadrinhamento afetivo, desenvolvido numa parceria entre a comarca de Lages e a Secretaria de Assistência Social e Habitação de Lages, crianças e adolescentes acolhidos institucionalmente têm a chance de viver momentos de entretenimento, lazer e de sentirem especiais.

Passear no shopping, fazer um lanche ou simplesmente dormir num quarto que não o seu e assistir a um filme faz diferença na vida dos acolhidos. Quem percebe a mudança no comportamento é a coordenadora do Abrigo Menino Jesus, que fica no bairro Santo Antônio, Vanuza Brunetta. A convivência com outras pessoas e a passagem por outros ambientes proporciona a transformação. “Eles têm um salto no desenvolvimento. É fácil ver o crescimento pessoal. Criam mais autonomia. A relação com os padrinhos e suas famílias traz uma cumplicidade muito bonita. Tem coisas, por exemplo, que preferem falar e se abrir com eles. E isso é confiança”.

A possibilidade de ter vínculos afetivos fora da instituição é uma das metas e avanço conquistado pelo projeto. “Esta é uma grande possibilidade para que nossas crianças e adolescentes tenham acesso a muitas oportunidades fora da instituição e, principalmente, tenham uma relação de amor segura e duradoura, que ultrapasse as vivências no acolhimento e sejam referências para suas vidas, mesmo após o desacolhimento”, avalia a psicóloga Ana Maria Pavão Silva, coordenadora Técnica da Diretoria de Proteção Social Especial de Alta Complexidade do Município.

Dois irmãos adolescentes foram apadrinhados pela mesma madrinha. As saídas ocorrem juntas e algumas vezes separadas. Antes de mais nada, se respeita a vontade da criança ou adolescente em participar dos passeios e atividades propostas. O sorriso no rosto de ambos é a prova do quanto a relação com a madrinha, convivência em sociedade e participação ativa na comunidade fazem bem. “A gente faz muita coisa e é sempre legal. Gostamos muito dela e a maneira com que nos trata”, dizem.

Ainda tem crianças esperando um padrinho
Instituído na comarca de Lages pelo juízo da Infância e Adolescência em agosto de 2017, o projeto de apadrinhamento afetivo, chamado de Acalento, levou em consideração o número de crianças e adolescentes acolhidos e as chances reduzidas de retornarem à família biológica ou serem encaminhadas na modalidade de guarda ou adoção. “Destacamos o direito à convivência comunitária, o princípio da proteção integral e o melhor interesse da criança e do adolescente. Esta prática está prevista no ECA (Estatuto da Criança e Adolescente)”, reforça o juiz Ricardo Alexandre Fiúza.

Podem ser apadrinhadas crianças a partir de 7 anos e adolescentes. Cerca de 20 têm esse perfil nas duas unidades de acolhimento, mas oito ainda aguardam um padrinho ou madrinha. Os candidatos precisam ter mais de 18 anos, apresentar documentos pessoas, passar por entrevista e capacitação com a equipe técnica da Secretaria de Assistência Social.

Depois da preparação e avaliação, os nomes dos possíveis padrinhos são encaminhados ao juízo. Se forem habilitados, recebem o “diploma afetivo”. Os candidatos não podem estar na fila de adoção e nem ter antecedentes criminais. Com deferimento do pedido de apadrinhamento, as saídas nos fins de semana, feriados e férias escolares estão autorizadas pelo juiz. Viagens para outras comarcas, estados ou países se exige autorização judicial.

Aqueles que desejarem apadrinhar podem procurar a Secretaria de Assistência Social ou os técnicos nos abrigos.

Taina Borges
Jornalista
Núcleo de Comunicação do TJSC – comarca de Lages