sicred
Unifique

A necessidade da caça como meio de controle da população de javali foi destacada durante audiência pública realizada pela Comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural da Assembleia Legislativa, na noite desta quinta-feira (26), em Lages, para tratar do manejo sustentável dessa espécie em Santa Catarina. Autoridades, produtores rurais e caçadores participaram do encontro, promovido na Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Lages.

O javali-europeu é uma espécie exótica, que não tem predadores e se reproduz de maneira acelerada. Segundo o proponente da audiência, o deputado Lucas Neves (Podemos), estima-se que haja uma população de 200 mil javalis no estado, que causam estragos em lavouras, rebanhos e ameaçam a biodiversidade local.

O parlamentar é autor do Projeto de Lei (PL) 393/2023, em tramitação na Alesc, que autoriza o controle populacional e manejo sustentável do javali. Ele acredita que essa é a melhor alternativa para enfrentar o problema.

“É uma situação que está trazendo temor para o campo”, disse Lucas. “Precisamos conscientizar a população dessa ameaça e, ao mesmo tempo, garantir que os caçadores tenham a autorização necessária para fazer o controle dessa espécie.”

Temores
O público que se manifestou durante a audiência demonstrou apreensão com a ausência do controle populacional desses animais. A preocupação aumentou ainda mais com a decisão do Ibama, em agosto passado, de suspender a concessão de novas autorizações para a caça do bicho.

O médico veterinário José Cristani, professor da Udesc/Lages, afirmou que os javalis ameaçam a sanidade animal dos rebanhos produtivos do estado, o que pode causar prejuízos incalculáveis para a pecuária. Já o produtor de vinhos Geraldo Possamai disse que no ano passado teve destruídas videiras de sua propriedade. Além disso, bezerros foram atacados e mortos pelos javalis.

Caçador, produtor rural e vereador em Bom Jardim da Serra, Gilmar Nunes Oliveira disse que os animais estão se multiplicando de forma absurda e assustando os proprietários rurais. “Em lugar onde antes a gente encontrava alguns animais, agora há mais de 100. Só na sexta-feira, matamos 30”, contou. “Recebo todos os dias ligações de produtores pedindo o controle desses animais.”

Henrique Menegazzo, representante da Prefeitura de Anita Garibaldi, defendeu a atuação dos caçadores. “Eles são legalizados, pessoas de bem, que querem diminuir os prejuízos da produção agrícola.”

Câmaras de 20 municípios encaminharam moções de apoio ao projeto de Lucas Neves. Assessores dos deputados federais Daniela Reinehr e Zé Trovão, ambos do PL, também manifestaram apoio à iniciativa do parlamentar, assim como a Associação Empresarial de Lages (Acil) e a Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina (Faesc), representada pelo presidente do Sindicato Rural de Lages, Márcio Pamplona.

“O trabalho dos controladores, custeado por eles mesmos, é muito importante para os produtores rurais. É um hobby para vocês e para nós, produtores, é uma segurança”, afirmou Pamplona. “Não podemos correr esse risco sanitário. Se tivermos qualquer problema sanitário, vamos ter um problema muito maior para a economia.”

O secretário de Estado da Agricultura, Valdir Colatto, afirmou que o projeto de lei apresentado pelo deputado Lucas Neves é um caminho para a solução de um problema antigo. “Se a União não toma uma providência, o Estado, com base na Constituição Federal, pode criar uma lei para resolver um problema dentro do estado”, comentou.

O presidente da Associação Brasileira de Caçadores “Aqui tem Javali”, Rafael Augusto Salerno, defendeu os caça do animal. Para ele, essa é uma maneira de controlar uma praga, nos mesmos moldes que é feito com outras pragas, como lagartas, carrapatos, ratos, entre outras.

“O nosso principal inimigo talvez seja a desinformação”, disse Salerno, que rebateu acusações de caça de animais silvestres. “Não podemos ser acusados de forma leviana, enquanto fazemos atividades de forma legalizada e voluntária.”

Para ele, a regulamentação da caça, além de ajudar o campo, pode representar uma atividade turística que impulsione a economia. “A suspensão da caça é uma tragédia para nós. Mas nós vamos voltar mais fortes e eu acredito muito nisso. Estamos num momento histórico, pois temos apoio político para defender a caça.”

Também participaram da audiência o comandante da Polícia Militar Ambiental, coronel Robson Xavier Neves; o secretário de Planejamento de Lages, Gabriel Córdova; e a vereadora de Lages Suzana Morais Duarte, autora de uma moção de apoio ao PL sobre o controle dos javalis.

Pela Alesc, participaram, ainda, os deputados Massocco e Marcius Machado, ambos do PL. “Somos o estado que mais exporta proteína animal e isso se deve à nossa sanidade animal. Não podemos arriscar isso”, alertou Massocco. Já Machado declarou que não é contra o controle do javali, mas destacou que não pode haver matança de outros animais.

Marcelo Espinoza
AGÊNCIA AL