13/10/2025 16h50 ⟳ Atualizada em 13/10/2025 às 16h50
Por Mariana Carlyzie – mãe atípica
Sempre gosto de começar deixando claro: eu não sou profissional da área da saúde. Sou mãe. E tudo o que compartilho aqui vem da minha vivência, das minhas pesquisas, das minhas trocas com outras famílias atípicas e, claro, da minha experiência com meu filho autista.
Quando recebi o diagnóstico, uma mistura de alívio e dúvida tomou conta de mim. Alívio por finalmente ter uma resposta, mas também dúvida, porque muita coisa que eu nunca associei ao autismo estava ali, o tempo todo, fazendo parte da nossa rotina.
Por muito tempo, eu acreditava que os choros sem motivo aparente vinham de ansiedade ou depressão. De fato, ele tem essas comorbidades, mas elas não eram a explicação principal. O diagnóstico de autismo trouxe um novo olhar para esses comportamentos, mostrando que eles estavam muito além de simples fases emocionais.
Outra descoberta que me surpreendeu foi a epilepsia. Uma condição que, segundo estudos, está presente em uma parte significativa das pessoas autistas. Foi justamente por causa das crises epilépticas que chegamos ao diagnóstico. Uma estrada difícil, mas necessária, que abriu portas para entendermos muito mais sobre ele.
Também passei a compreender os interesses restritos. No caso do meu filho, o amor intenso por animais — especialmente gatos e cachorros — sempre chamou minha atenção. Mas eu não imaginava que esse fascínio específico, quase exclusivo, fazia parte das características do espectro.
As estereotipias também estavam lá: estalar dedos, movimentar os ombros repetidamente… pequenos gestos que, antes do diagnóstico, eu não sabia nomear, mas que hoje reconheço como parte da forma dele de se autorregular.
A hipermobilidade foi outra característica que só entendi mais tarde. Aquela flexibilidade exagerada das articulações não era apenas “jeito do corpo dele”, mas algo que aparece com frequência em pessoas autistas.
E como não falar da seletividade alimentar? Essa talvez tenha sido uma das maiores dores para mim como mãe. Antes do diagnóstico, ele sempre foi de baixo peso, e eu me angustiava sem entender por que era tão difícil fazer com que se alimentasse bem. Muitas vezes, na minha ignorância e desespero, acabei obrigando-o a comer. Hoje entendo que a seletividade alimentar já estava ali, relacionada a questões sensoriais, e que a pressão só gerava ainda mais sofrimento.
Percebo que o autismo se manifesta de formas muito mais amplas do que as que a maioria das pessoas imagina. Não se trata apenas de dificuldades na fala ou socialização, mas de uma combinação de sinais e comorbidades que se entrelaçam no cotidiano.
Meu objetivo ao compartilhar tudo isso não é ensinar — porque não sou especialista — mas acolher e informar. Porque sei como é difícil para uma mãe olhar para o próprio filho e perceber que há algo diferente, sem conseguir nomear. Se eu tivesse lido relatos como este antes, talvez tivesse entendido algumas coisas mais cedo e sofrido menos no processo.
Se você é mãe, pai ou cuidador, e se identifica com parte desses sinais, não hesite em buscar ajuda especializada. O diagnóstico não é um peso, é uma chave que abre portas para apoio, compreensão e novas possibilidades de vida.