O agronegócio foi responsável por 27,5% das riquezas geradas pelo Brasil em 2021, segundo o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O percentual representa cerca de R$ 2,4 trilhões e firmou um patamar recorde para o setor, que se manteve resiliente mesmo em meio às restrições e crises causadas pela Covid-19. O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, estima que o agronegócio seja responsável por 25,5% do PIB de 2022, pouco abaixo do registrado em 2021, mesmo frente à alta de custos com insumos. Além disso, a instituição aponta que “o PIB do agronegócio alcançou recordes sucessivos em 2020 e em 2021, com esse biênio se caracterizando como um dos melhores da história do agronegócio brasileiro”. A produção e qualidade alcançada fez com que o país se consolidasse nas primeiras colocações entre as principais nações produtoras e exportadoras no mercado mundial, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. O agronegócio brasileiro conseguiu se manter fortalecido e crescer mesmo com desafios internacionais, como a crise de peste suína, a guerra entre Ucrânia e Rússia e turbulências na economia brasileira. Nos últimos anos, o setor desponta como propulsor do desenvolvimento econômico, sendo pouco afetado pela política econômica e se fortalecendo no mercado internacional de commodities.
O setor foi responsável por 48% da exportação brasileira, atingindo US$ 80 bilhões de vendas em produtos agrícolas, e ainda emprega 20% da força de trabalho brasileira. Relatório do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) ainda prevê uma tendência de crescimento com ganhos de produtividade no setor para os próximos dez anos. “Os produtos mais dinâmicos do agronegócio brasileiro deverão ser algodão, soja e milho, carnes suína, bovina, frango e frutas, em especial a manga. O mercado interno e a demanda internacional serão os principais fatores de crescimento para a maior parte desses produtos. São os que indicam também o maior potencial de crescimento da produção nos próximos dez anos. A produção de grãos deverá atingir 333,1 milhões de toneladas no próximo decênio. Mas devemos atingir 300 milhões de toneladas daqui a seis anos. A produção de carnes entre 2020/21 e 2030/31 deverá aumentar em 6,6 milhões de toneladas. Representa um acréscimo de 24,1%. Esses percentuais podem situar-se em níveis maiores, haja visto o aumento da procura por proteína animal”, detalha o documento. Ainda existe uma expectativa de crescimento da participação do agronegócio no PIB brasileiro de cerca de 3% em 2022.
Mas o que leva o agronegócio a se destacar na economia?
Coordenador científico do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Geraldo Barros explica que o bom desempenho observado hoje no agronegócio brasileiro é resultado de décadas de investimento em ciência e tecnologia nacional. Ele relembra que o Brasil iniciou uma revolução verde durante os anos 50, quando indústrias de insumo vieram se instalar no país, e o agronegócio encontrou apoio do governo para transformar a agricultura, assim como o setor industrial. “A partir desse ponto temos uma diferença grande porque a indústria de transformação, em geral, fez só um transplante de fábricas para o Brasil. Já com o agronegócio houve mais desenvolvimento nacional de tecnologia. E o governo apoiou fortemente até o final dos anos 80, quando o setor já estava desenvolvido e em uma dinâmica de crescimento. Durante todo esse tempo, o apoio para a pesquisa agropecuária não oscilou. Quando chegamos aos anos 90, o Brasil já estava bem preparado e competitivo para encarar uma globalização, que contribuiu para o crescimento das economias emergentes. A China impulsionou a alta nos produtos agropecuários do Brasil. Sem esse crescimento de consumo e exportação, não conseguiríamos explorar as tecnologias disponíveis nas escalas que a gente atingiu. Nosso agronegócio hoje é moderno, maduro, de fronteira. O setor só enfrenta problemas quando há crises no exterior, como crises climáticas e guerras”, esclarece.
De forma complementar, o chefe da Assessoria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Economia, Rogério Boueri, aponta que a forte demanda internacional, a capacidade de produção, disponibilidade de espaço produtivo e a tecnologia desenvolvida dentro do país são os principais fatores que conferem ao agronegócio estabilidade e alta capacidade de crescimento. “O Brasil é o grande fornecedor de alimentos do mundo. Por conta disso, o principal ator na segurança alimentar mundial. A demanda varia ao longo do tempo, mas em relação a quem procura. Sempre tem comprador porque a população está aumentando, enriquecendo e necessitando de mais alimentos. Até 2050, devemos continuar nesse processo. Temos espaço para fazer agricultura sem desmatar, então nossa demanda vai ser estável e ainda crescer nas próximas décadas. Temos agricultores experientes e sofisticados, sabemos produzir, descobrir mercados externos e aproveitar a tecnologia disponível. Tudo isso aumenta nossa produtividade e competitividade internacional, além de fazer com que o setor seja menos volátil e sofra menos com oscilações econômicas do que outros. O agronegócio brasileiro é um exemplo para o mundo. Temos pequenas falhas, mas ainda assim somos o país mais sustentável e temos um know-how incrível. Mas o governo não tem mais dinheiro para financiar o agro, o setor tem que ir para o mercado”, avalia.
Para Mucio Mattos , sócio e head de crédito da Vectis Gestão, o agronegócio tem exercido um papel anticíclico na economia brasileira, sendo um contraponto em períodos de queda do dinamismo econômico do país. “O fato do setor estar muito exposto ao mercado mundial, assim como ao dólar, faz com que o agro tenha certa resiliência, mesmo em períodos de desaceleração interna. Além disso, as perspectivas para o agronegócio, em geral, são bastante positivas, haja vista a necessidade de abastecimento de alimentos no mundo frente ao crescimento populacional. O agronegócio brasileiro apresenta números expressivos em termos de comércio exterior, sendo um dos principais exportadores de commodities do mundo. Isso certamente faz com que o setor seja menos impactado por fatores internos relativamente a outros”, analisa.
‘O Estado depende do agro, não o contrário’
Especialista em direito agrofinanceiro e membro do Comitê Europeu de Direito Rural (CEDR), o advogado Lutero Pereira explica que, dentre todas as atividades econômicas do Brasil, o agronegócio se destaca por conta da enorme responsabilidade e impacto causados pelo setor. “Quando falamos de agro, falamos de algo muito além de poder econômico. O agronegócio guarda a própria existência humana porque a alimentação é uma condição básica de sobrevivência, e o agro é a nossa fonte primária de alimentos. Isso garante a saúde da população, dá sustento à ordem pública e a paz social, além de empoderar o Estado para o exercício da sua soberania. A Constituição de 88 determina que o Estado deve fomentar a produção agropecuária, desenvolvida majoritariamente pela atividade privada. O setor se fortaleceu de tal maneira nos últimos anos que ele tem estrutura e solidez suficiente para andar sozinho, desde que o Estado não interfira para atrapalhar. O produtor rural ou o agronegócio não é um dependente do Estado. É exatamente o contrário. O Estado que depende do agronegócio. Se ele não for bem, a economia não vai bem, o ambiente social não vai bem, nem a vida, nem a saúde. A sociedade adotou um comportamento crítico ao produto rural, mas ele é um agente do bem comum. Se o ambiente rural se tornar menor em sentido de produção e qualidade, as cidades sofrem imediadamente o efeito negativo. É possível estabelecer a paz entre os dois lados e a pandemia testemunhou em favor do agro. Se o setor tivesse parado, hoje estaríamos vivendo uma convulsão. Qualquer governo que queria ir bem no Brasil tem que fomentar o agronegócio, para arrecadar impostos, se desenvolver, gerar riquezas, emprego e renda. O agronegócio não pode ser desprezado pelo governante“, opina.
Contudo, a crise econômica, as mudanças climáticas, o retorno da insegurança alimentar e a crise geopolítica são fatores de preocupação para o agronegócio brasileiro, segundo Gislaine Balbinot, diretora executiva da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). “O cenário global afeta o agro brasileiro por exportar produtos para mais de 200 países. O setor tem buscado priorizar o tema insegurança alimentar, pois é preciso erradicar a fome no mundo e no país. Desse modo, a geopolítica tem papel preponderante, pois é por meio de acordos comerciais que os alimentos podem ser melhor distribuídos. A volta do precaucionismo e do protecionismo, que tem sido cada vez mais presente no mundo atual, é preocupante, pois leva o agravamento de novos acordos comerciais, assim como a imposição de regras unilaterais. Independentemente do governo, o agronegócio nos próximos anos deve seguir seu papel para garantir a segurança alimentar do mundo. Segundo o Ipea, em 2023 se espera um crescimento de mais de 10% para o PIB Agropecuário. Com isso, o setor continuará contribuindo para o superávit da balança comercial, para maior geração de emprego e de renda, e ainda trabalhando em prol da sustentabilidade, por meio da adoção de práticas sustentáveis no plantio, na colheita e nas indústrias”, complementa.
Fonte: Site JP News