Grávidas que tomaram a 1º dose da vacina Astrazeneca podem ficar tranquilas quanto ao possível risco de coagulações após os primeiros dias de vacinação, assegura Mário Júlio Franco, diretor científico da Sogisc (Associação de Obstetrícia e Ginecologia de Santa Catarina).
Se for confirmada a correlação entre o imunizante e o desenvolvimento de eventos trombogênicos, os casos podem ocorrer apenas após os quatro primeiros dias depois da vacinação. “É um evento agudo, associado a entrada na circulação materna”, pontua o doutor.
Agora, quanto a aplicação da segunda dose, a orientação é avaliar caso a caso. Caso seja novamente liberado, as grávidas que tomaram a primeira dose devem discutir junto aos médicos se devem tomar a segunda dose da Astrazeneca, sugere Franco.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recomendou na noite desta segunda-feira (10) a suspensão imediata da aplicação da vacina Astrazeneca/Fiocruz em gestantes. Foram registrados suspeitas de trombose após a aplicação do imunizante. A correlação entre as coagulações e a vacina é investigada.
A SES (Secretaria de Saúde de Santa Catarina) suspendeu temporariamente a vacinação de gestantes – incluindo a aplicação dos imunizantes Pfizer e Coronavac. Até às 17h desta terça, a pasta aguardava novo pronunciamento do Ministério da Saúde. Cabe lembrar que não existem relatos de coagulações referentes aos outros dois imunizantes.
Estudos em andamento
A suspensão pegou a comunidade médica de surpresa. “Não temos ainda corpo de residência médica para avaliar se o uso da Oxford poderia estar aumentado as coagulações da gestante. A gente sabe que é extremamente rara a ocorrência”, afirma Franco.
De acordo com o médico, o aumento de coagulações é comum durante a gestação, inclusive necessário ao parto. O problema é quando as tromboses ocorrem de forma exacerbada, e em regiões como o cérebro e pulmão, provocando derrame cerebral e embolia pulmonar.
A principal dificuldade enfrentada no momento é falta dados que apontem a associação entre a Astrazeneca e as tromboses. A bula de todas as três vacinas aplicadas no Brasil relatam que não há resultados conhecidos da aplicação dos respectivos imunizantes em gestantes.
“Nos parece óbvio que o risco de fazer trombose seja potencialmente próximo entre gestantes normais e as que tomaram a primeira dose da Oxford. Mas não temos resposta hoje. Se o órgão máximo pediu para suspender, cabe a nós cumprir a suspensão”, diz Franco. Ele suspeita que a probabilidade também seja semelhante quando comparada ao grupo de gestantes que fumam ou usam pílulas anticoncepcionais.
“Embora foram aplicadas milhares de doses da Oxford em gestantes, ainda não sabemos se há aumento de hipercoagulação das gestantes”
Vacinação não deve ser suspensa
O que mais preocupa é a suspensão de todo o calendário de vacinação do grupo. O Brasil conta com uma média semanal de 25,2 gestantes e puérperas mortas por Covid-19. Comparado ao ano anterior, o número mais que dobrou: a média era de 10,3 vítimas.
Conforme o OOBr-Covid-19 (Observatório Obstétrico Brasileiro da Covid-19), Santa Catarina já registrou 19 mortes de gestantes e puérperas até o dia 5 de maio. O agravamento do quadro levou a inclusão de gestantes e puérperas entre aqueles que recebem o imunizante na atual fase de vacinação.
“Com a alta mortalidade, a imunização deve ser mantida”, afirma o doutor, que também é diretor do núcleo de medicina fetal do HU (Hospital da UFSC). Ele acredita que o Ministério da Saúde irá decidir pela vacinação gestantes e puérperas apenas com os imunizantes Coronavac e Pfizer.
“O estado da gravidez é um estado trombogênico, de coagulação. Se a gravida não coagulasse muito, elas morreriam no parto. A gestante tem uma capacidade absurda de coagulação. Agora, se a vacina pode piorar a condição, é o que vamos testar. É o que precisar ser avaliado”, conclui.
Mortalidade entre grávidas
O Ministério da Saúde publicou no dia 15 de março uma nota técnica orientando a vacinação imediata. Na ocasião, das 199 mortes de gestantes registradas por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda), 135 (67,8%) foram por Covid-19.
A maioria das mortes (56,3%) ocorreram no 3º trimestre de gestação. Ao todo, 8% a 11% das gestantes e lactantes com Covid-19 precisam de hospitalização. Cerca de 2% a 5% precisam de atendimento em UTI (Unidade de Terapia Intensiva).