29/12/2025 15h35 ⟳ Atualizada em 29/12/2025 às 15h35

A história da educação de São Joaquim guarda capítulos marcantes, alguns celebrados com orgulho, outros lembrados com tristeza. Entre estes últimos, está a demolição do antigo prédio do Grupo Escolar Professor Manoel Cruz, que ficava na Praça Cesário Amarante e por décadas abrigou gerações de alunos, professores e funcionários.
Com a construção do novo prédio, localizado próximo ao cemitério municipal, decidiu-se pela derrubada do edifício original. A notícia causou profundo pesar e até revolta na população da época. Não apenas entre ex-alunos, mas também entre os moradores do interior do município e todos que dedicaram parte da vida ao trabalho naquela escola. A autora do relato, inclusive, lecionou ali por 14 anos e testemunhou de perto a importância daquele espaço.
Os motivos para a demolição foram vários. O primeiro deles dizia respeito à localização. O prédio estava entre as duas principais ruas da cidade, áreas de grande movimento e barulho, o que dificultava o funcionamento adequado das atividades escolares. Outro problema era o tamanho reduzido do terreno. A falta de espaço impedia qualquer ampliação dos pátios ou da própria estrutura física.
Com o aumento da população escolar, a situação se agravou. As dez salas existentes já não comportavam a quantidade de alunos. A solução foi dividir o dia em três turnos de apenas três horas cada, o que comprometia seriamente a qualidade do ensino e o rendimento dos estudantes.
A estrutura interna também apresentava desgaste avançado. O madeiramento estava apodrecido, algumas salas tinham assoalhos esburacados, e muitos caixilhos e venezianas já não se sustentavam. Paradoxalmente, as paredes de pedra e tijolos permaneciam sólidas e poderiam permitir uma restauração completa, algo que nunca foi realizado.
A precariedade era tão evidente que chamou a atenção até de autoridades estaduais. Durante uma visita ao Grupo Escolar, o então governador Colombo Machado Salles constatou o estado crítico do prédio. Ao deixar o local, dirigindo-se ao automóvel oficial, comentou sentir-se constrangido por embarcar em um veículo de luxo enquanto crianças e trabalhadores catarinenses permaneciam em condições tão inadequadas.
A demolição tornou-se um marco doloroso na memória da cidade, apagando um símbolo que foi, por décadas, o primeiro contato de muitas gerações com o conhecimento. O novo prédio trouxe melhores condições, é verdade, mas a perda do antigo Grupo Escolar ainda ecoa como lembrança de um tempo em que a história foi retirada pedra por pedra, antes que pudesse ser preservada.