O NotiSerra entrevistou 9 mulheres empreendedoras, de diferentes áreas e idades, para falar um pouco do protagonismo feminino em 3 perguntas. Afinal, essas figuras são símbolos de vitória, tendo em vista que mulheres ainda hoje sofrem com as desigualdades, em relação aos homens, no trabalho e no convívio social.

Esse protagonismo feminino é ligado a libertação de um mundo machista a partir do momento que mulheres em destaque promovem uma representatividade revolucionária, pois outras passam a ver que podem ter autonomia e serem donas de si, e dão um enorme passo para viver uma vida melhor.

Há 13 anos foi sancionada a lei Maria da Penha, a lei que protege a mulher da violência doméstica e familiar. É impactante perceber, através de pesquisas, que grande parcela das vítimas não denunciam os agressores.

Esse fato foi comprovado por uma pesquisa feita pelo Projeto Vila Lilás, que entrevistou cerca de 28 mil pessoas, sendo mulheres 95% das vítimas, e 71% delas afirmou ter sofrido algum tipo de violência e não ter feito denúncia. Os motivos em destaque de não haver denuncia, são: não acreditarem na eficácia da lei ou serem dependentes financeiramente do agressor.

Projeto via Lilás mapeou pessoas que sofreram constrangimento Foto: Arte/O Globo

Por as mulheres serem, historicamente, diminuídas e menosprezadas, muitas não têm a expectativa da possibilidade de ter independência financeira, assumir altos cargos no mercado de trabalho, liderar um ambiente de negócios.

Mas isso está mudando, e para continuar em constante evolução, é preciso que exemplos de liderança e empreendedorismo feminino sejam colocados em evidência, para que assim, mais mulheres possam se inspirar a sair da prisão machista e opressora, que ainda no século 21 fala tão alto em nossa sociedade.

Você está prestes a conhecer a história dessas mulheres, seus sonhos, suas inspirações, e ver que mulheres podem sonhar, realizar, apesar de muitas vezes encontrarem o dobro de obstáculos, elas são capazes e competentes.

Empreender foi uma vontade ou uma necessidade na sua vida? Como isso começou?

Adriana: Empreender foi uma mistura de vontade e necessidade. Com as minhas filhas pequenas, queria uma forma de trabalhar sem que estivesse muito distante delas, pois sabia que elas precisavam muito da minha presença.  Por outro lado, também sabia que precisava empreender para melhorar a renda familiar, foi aí então que resolvi fazer meu primeiro curso, e com isso muitas possibilidades foram se abrindo no meu caminho.

Nivia: Foi uma mistura entre necessidade, vontade e, principalmente, oportunidade. A necessidade surgiu assim que me formei em Direito, pois eu pensava em seguir o caminho de “concurseira” e tentar um cargo em concursos públicos. Entretanto, dada a situação atual do nosso mercado de trabalho, era cada vez mais concorrido, e vi a necessidade de buscar algo que trouxesse um retorno financeiro mais rápido. A vontade veio de uma junção do fato de eu ter crescido no meio desse trabalho e amar tudo que envolve a organização de um evento, e o fato de querer de alguma forma ajudar minha mãe, estar com ela como um “braço direito”. E a oportunidade caiu no meu colo pelo fato de minha mãe já estar nesse caminho, já ter os investimentos e experiências. Eu só precisei mergulhar nesse mundo e continuar junto com ela.

Ana Paula: Sempre tive o sonho de ter meu próprio negócio, eu e meu noivo pesquisamos sobre o assunto, e começamos a desenvolver o projeto de implantação da academia em nossa cidade. Durante três anos estudamos equipamentos, tendências, informações técnicas, e consultamos os mais destacados profissionais que atuam na área. Tudo foi cuidadosamente pensado para oferecer o que existe de melhor em infraestrutura e atendimento.

Karyna e Sabryna: Iniciamos em 2008, então fazem 11 anos que estamos na área. Nós juntamos a vontade com a necessidade. Desde que eu tinha 15 anos (Sabryna) e 13 anos (Karyna), nós já éramos muito interessadas nesse ramo. Sempre fomos muito empenhadas em descobrir o novo. No início, nós trabalhávamos fora, para suprir as nossas necessidades financeiras. Mas após algum tempo percebemos que realmente amávamos o que fazíamos, e hoje, trabalhamos e nos dedicamos 100% nessa área, que é a estética.

Gisele: Inspiração, porque eu queria ter alguma coisa com o meu nome. No começo, eu fazia t-shirts personalizadas com pérolas, biquínis, lingeries… Mas me mudei de cidade e as vendas começaram a diminuir, e aí veio a necessidade de empreender, porque eu precisava de dinheiro rápido. E eu pensei “vou vender acessórios, é uma coisa que eu amo usar”. E deu super certo. A gente vai se atualizando, errando, aprendendo com as experiências. Talvez se eu tivesse desistido quando não conseguia vender, hoje eu não teria uma home loja. Às vezes, a gente quer alguma coisa, mas estamos no ramo errado.  A gente não pode ter medo da mudança.

Luzia: Por necessidade. Eu trabalhava numa loja de presentes, brinquedos e roupas. Quando minha segunda filha nasceu, para continuar trabalhando eu precisava pagar alguém, mas com o que eu ganhava não compensava, então resolvi ficar em casa e comprar uma máquina overlock. Com ajuda da minha primeira sogra, começamos a confeccionar pijamas e vender para a vizinhança, uniformes escolares e vender de porta em porta. Aumentamos a produção, o maquinário e quantidade de funcionários. Adquirimos a loja Pé Kente e mudamos a malharia que até então era em casa. Não tínhamos dinheiro, mas muita vontade de trabalhar e vencer! Começamos a vender roupas e acessórios, depois abrimos a segunda loja, a terceira com artigos infantis e anos depois a Pé Kente esportes.

Rita: Desde de criança, eu sempre tive contato com vendas nas lojas das minhas tias, por isso, aprendi a ser uma comerciante. Gostar e entender do ramo que trabalho é o que me move, e o que me proporciona o sucesso que traz retorno almejado, me faz querer crescer, e almejar mais amanhã. Tenho consciência de que contribuo com o crescimento do mercado no meu ramo de negócio, e com os empreendedores parceiros.

Mariana: Sempre senti uma vontade de ter algo que fosse meu, meu primeiro ato de empreender foi quando me vi desempregada e com filho pequeno, na época estava uma febre de unhas decoradas, então meu primeiro negócio foi fabricar películas de unhas, isso durou uns dois anos. Depois, comecei com laços de cabelo, já fiz bolos de pote, artesanatos, estou sempre pensando em fazer algo diferente do que já fazem.

O que te inspira a fazer o que você faz?

Adriana: Minha mãe sempre foi minha grande fonte de inspiração com sua bondade infinita. Com ela aprendi que temos que batalhar por aquilo que queremos, e que temos que fazer tudo por amor e com amor. Eu continuo acreditando que temos que trabalhar por um mundo melhor, com menos desigualdades e mais compreensão entre todos. Sempre tentei passar para minhas filhas os ensinamentos que acredito serem necessários para evolução delas e do mundo. Elas também estão sempre me ensinando, trazendo novos pontos de vista que me permitem evoluir cada vez mais.

Nivia: Seria até redundante falar que minha maior inspiração e quem me ensinou tudo foi a minha mãe, tanto que segui seus passos em relação ao trabalho e a empresa. Porém, além dela, sou inspirada diariamente pelas mulheres que me cercam. Minha família é composta em grande maioria por mulheres, as quais estão sempre me mostrando o quanto a união feminina é importante. Além disso, tenho amigas atuando nas mais diferentes áreas de trabalho e me sinto afetada por cada conquista, ideia ou inovação. Cada mulher que vejo crescer, evoluir, empreender, me inspira no meu crescimento. E também sou inspirada pelo fato de nosso trabalho ser realizar sonhos, celebrar momentos especiais. É uma satisfação pessoal poder ajudar as pessoas, eternizar suas expectativas e desejos, de alguma forma transformar sonhos em realidade.

Ana Paula: Empreender requer muita energia e essa energia vem de dentro. Cada vez mais me apaixono pela minha profissão. Criar um negócio que se conecte profundamente com quem eu sou e com aquilo que o mundo precisa, me dedicando ao máximo as minhas competências atuais, aquilo que eu domino e gosto de fazer. É muito gratificante ver os resultados dos meus alunos, principalmente em melhorar a saúde e saber que de alguma forma contribuí para uma melhora de qualidade de vida. E isso me inspira a me dedicar cada dia mais.

Karyna e Sabryna: O sorriso das pessoas quando estão com o procedimento que escolheram finalizado, é a nossa maior inspiração, sem dúvidas. Levantar a autoestima dessas mulheres transforma vidas. De um modo que nem podemos imaginar, algumas nem comentam, mas podemos perceber no olhar delas, que sim, nós mudamos o dia dessa mulher! E hoje, que já temos alguma experiência na área, iniciamos a parte de cursos, para poder ensinar e acrescentar conhecimentos na vida de outras mulheres, para que construam novas oportunidades e se libertem profissionalmente.

Gisele: O que me inspira todos os dias sou eu mesma. Acordar com saúde, sabedoria, pensamento positivo, já é um grande passo. Todos temos problemas e intempéries, mas só de acordar bem, já é uma chance que a vida está te dando. A inspiração não veio do nada, eu não nasci com ela, fui construindo-a. Já chorei muito e depois decidi “sou mulher, sou empreendedora, quero a cada dia crescer e dar o melhor de mim para as pessoas”. Eu já tive baixa autoestima, mas nunca desisti de mim mesma. Eu admiro a mulher que me tornei, por ser positiva e estar sempre alegre, com alto-astral.

Luzia: Sou muito grata a Deus, aos clientes que sempre nos deram a preferência e acreditam em nosso trabalho, e a nossa família que é o alicerce.

Rita: O que me inspira é a vida, a moda, o bom gosto dos meus e minhas clientes.

Mariana: O que me inspira é saber a força que tenho, e a vontade de trabalhar que nunca me faltou. Mas minha maior inspiração e fonte de força são os meus filhos.

Você já sofreu com o machismo em sua vida?

Adriana: Nós mulheres sempre sofremos com machismo, algumas vezes mais discretas e outras vezes bem escancaradas mesmo, mas nunca me deixei abalar com os preconceitos que enfrentei na minha caminhada. Aprendi a dar valor ao meu trabalho, e a todo tipo de trabalho, e não permitir que preconceitos afetem isso. Com o passar do tempo percebi que muito dos preconceitos sofridos pelas mulheres são na verdade fruto do receio que muitos homens têm de verem mulheres obterem mais sucesso do que eles. Acredito que muito disso venha de um pensamento enraizado nas nossas tradições de sociedade patriarcal, e que isso vem aos poucos mudando e ainda precisa mudar muito mais. O caminho para essa mudança passa principalmente pelo apoio e união entre as próprias mulheres, em seus trabalhos, empreendimentos e ideias. Desejo que a cada dia possamos deixar para trás todo tipo de preconceito e que cada vez tenhamos mais mulheres crescendo, se destacando e inovando.

Ana Paula: Infelizmente o machismo ainda se faz presente todos os dias em grande parte da nossa sociedade. Acredito que toda mulher já passou alguma situação. Logo que me formei, passei por uma situação na minha profissão com colegas da mesma área não aceitarem que a figura feminina tenha mais conhecimento do que eles.

Karyna e Sabryna: O nosso público é 95% mulheres. Dessa forma, acabamos não tendo muita proximidade com o machismo no trabalho. Porém, podemos perceber o machismo de outras formas, como por exemplo uma mulher que vai maquiar ou pintar as unhas, e pede para que seja um “tom discreto”, pois o marido não permite. Também percebemos a resistência dos meninos, em fazer as unhas ou as sobrancelhas, por exemplo. “Isso é coisa de mulher”, eles dizem.

Gisele: Na vida pessoal eu já deixei de fazer coisas por medo, meu pai sempre foi machista, já mudou um pouco hoje em dia. Mas, é aquela coisa de que mulher não pode sair “sozinha” sem o marido, tem que chegar até tal horário, a mulher somente é quem tem que lavar, passar e cozinhar, o marido pode ficar de boa… Eu via a minha mãe, por ela ser de uma época muito machista, muitas vezes ser submissa. Ela nunca pôde estudar, não aprendeu a dirigir, depende muito do meu pai e eu não queria ser igual nesse sentido. Sempre quis ser independente, mas eu nunca fui submissa a ninguém, desde os 18 anos fui morar sozinha, e construí a minha vida.

Luzia: Confesso que não, pelo menos não lembro de nenhum fato marcante, em todos os lugares por onde passei sempre fui respeitada.

Mariana: Já sofri com machismo, sim. Já tive um relacionamento com uma pessoa que não me deixava estudar, e eu por gostar da pessoa acabei cedendo e não estudando na época.

Rita: Sim, quando trabalhava em um banco, o gerente falava que devíamos aceitar cantada para vender seguros. E já no meu trabalho atual, um homem me falou que como eu viajava sozinha, com certeza traía meu marido, achei um absurdo.

Nivia: Sinceramente, acho muito difícil uma mulher não ter sofrido algum tipo de machismo alguma vez na vida. Isso já está tão impregnado no pensamento da nossa sociedade que a gente acaba nem notando, a gente já vê como algo “normal”. Mas se você observar com um olhar mais crítico, vai ver que não tem nada de normal, e começa a perceber que não é difícil enumerar situações que vivenciamos o machismo na pele. Os exemplos mais comuns para mim: 1) uma falta de credibilidade no teu trabalho, tipo: “mas é você mesma que vai fazer isso, sozinha?”, principalmente quando é um trabalho tradicionalmente feito por homens, como se uma mulher não fosse capaz de fazer. 2) as chamadas “cantadas”, piadinhas bobas, “dar em cima”, uma brincadeirinha que acaba colocando a mulher apenas como objeto de satisfação e desejo para o homem. É muito diferente de um elogio com respeito, admiração. 3) a ocupação majoritária de homens nos cargos de poder e liderança e a desigualdade de remuneração para uma mesma função. O machismo nem sempre é escancarado, às vezes vem de forma muito sutil, e precisamos estar atentas para perceber e combater até os menores sinais.


Mulher, não se cale, se sofre com violência física ou psicológica, denuncie. A sua liberdade é uma preciosidade, não deve ser tratada como moeda de troca por medo de não conseguir viver uma vida independente ou de não ser ouvida. A sua opinião importa, a sua voz faz diferença, você vale a pena! Aliás, você vale, e ponto. Permita se amar e valorizar sua vida.

Essas mulheres entrevistadas são a prova de competência e independência. A união deixa o passo mais firme, mulheres unidas podem mudar o mundo e escrever um futuro com empatia e equidade. E um dia, todas serão livres de verdade.

Por Liandra Porto

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