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A Revista Frio da Serra tem se dedicado a relembrar histórias marcantes da região, trazendo à tona memórias preciosas que moldaram a paisagem e a vida das comunidades locais. Desta vez, voltamos nosso olhar para o Rio Lavatudo, um afluente do Pelotas, cuja trajetória carrega consigo um rico legado de desafios e superações.

O Rio Lavatudo nasce em um dos pontos mais altos do Morro da Igreja, com imponentes 2.070 metros de altitude, situado em Santa Bárbara, região que hoje pertence ao município de Bom Jardim da Serra. Sua jornada serpenteante o leva a atravessar parte do município de São Joaquim e, em seguida, serve como divisa entre este último e o município de Lages, até finalmente se encontrar com o Rio Pelotas.

Em tempos passados, quando nem mesmo estradas conectavam São Joaquim a Lages, o rio Lavatudo representava um desafio a ser vencido. Atravessá-lo significava utilizar poucos caminhos vicinais disponíveis, em sua maioria ligando fazendas isoladas. A travessia era feita a vau, tanto por pessoas quanto por animais e veículos puxados por bois carreiros, em um trecho conhecido como Passo do Pessegueiro.

Foi somente em 1928, durante a gestão do prefeito Boanerges Pereira Medeiros, que uma estrada foi inaugurada, ligando São Joaquim a Lages. Na mesma ocasião, a primeira balsa foi lançada às águas do Rio Lavatudo, uma iniciativa conjunta dos dois municípios. Construída com madeira de pinho, media aproximadamente 6 metros de comprimento por 3,5 metros de largura, e tinha capacidade para transportar seis mulas carregadas por vez. A travessia era demorada, considerando que o rio media cerca de 90 metros de largura naquele ponto.

Ao longo dos anos, foram construídas balsas maiores, propriedade do Estado, capazes de transportar não apenas mais animais, mas também veículos. Diversos balseiros prestaram seus serviços no Passo do Lavatudo, entre eles Boanerges Machado e Júlio Antunes de Souza, este último servindo por 14 anos.

No entanto, com o avanço da infraestrutura, a construção de uma ponte de concreto, entregue ao tráfego durante o Governo de Celso Ramos e situada a 400 metros rio abaixo, a utilização das balsas foi gradativamente diminuindo até cessar por completo. Assim, uma era de travessias desafiadoras e de histórias marcantes chegou ao fim, deixando para trás lembranças que ecoam na memória da região.

Informações retiradas do Livro Recordando São Joaquim