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[dropcap]U[/dropcap]m carro de som percorre as ruas de Rio Rufino, na Serra de Santa Catarina, conclamando os moradores a economizarem água, produto quase inexistente por ali. Alguns minutos depois, o mesmo veículo propaga outra mensagem, dessa vez focado na guerra contra o coronavírus: “Usem máscara ao sair de casa e não esqueçam de lavar as mãos muitas vezes por dia”. As duas mensagens sintetizam um paradoxo que vem afligindo não só Rio Rufino, mas vários municípios serranos catarinenses. Como seguir o protocolo dos cuidados básicos da prevenção ao vírus se a região enfrenta a pior estiagem dos últimos tempos e muitos locais próximos ao Centro estão com as torneiras secas?
É o auge das consequências de um fenômeno climático que começou no final de 2019 e agora vem protagonizando cenas relativamente incomuns. A transposição de açudes, lagos e, mais recentemente, rios para aumentar o volume do rio Antonina, principal manancial de abastecimento de São Joaquim, é uma delas. Caminhões-tanque estão sugando a água do rio Lava-Tudo e a descarregando em canaletas existentes na beira da SC-438 alguns quilômetros acima. Financiada pela Casan, a operação criada para alimentar a Bacia Hidrográfica do Rio Antonina está sendo executada por seis caminhões-tanque há cerca de 20 dias. Juntos os veículos deslocam pouco mais de 22 milhões de litros por dia fazendo cinco viagens de ida e volta diárias.
Lençol freático seco
– É a pior seca em 66 anos. Nosso solo sempre teve capacidade de armazenamento. Mas pela primeira vez em nossa história, o lençol freático secou, relata o secretário da Agricultura e do Meio Ambiente de São Joaquim, Volnei Júnior, avaliando o impacto que a estiagem vem causando à agroindústria local, principalmente aos dois carros-chefes da economia.
A maçã, responsável por 65% do PIB (Produto Interno Bruto) registrou uma perda de até 40% na produção, significando um prejuízo de R$ 180 milhões aos produtores. Responsável por 10% do PIB, a pecuária sofreu uma quebra de 20% e os pecuaristas, um prejuízo de R$ 170 milhões.
Por todos os lados do interior de São Joaquim e dos municípios vizinhos é possível ver no gado leiteiro os sinais do estresse provocado pela falta de pastagem e de água para beber. A população também sofre com a incerteza da chegada da chuva em quantidade suficiente e com a iminência do surgimento do coronavírus.
– O vírus vai chegar a qualquer hora, sabemos, mas temos de estar prevenidos –, assegura o secretário de Turismo de Urupema, Antenor Pena Arruda. Para isso, a prefeitura fechou uma das duas entradas do município de 2.500 habitantes e implantou na outra uma barreira sanitária.
Até ontem (21/5), os termômetros usados pelas duas funcionárias da Secretaria Municipal de Saúde não detectaram a presença de gente contaminada pelo coronavírus diante delas.
Texto: Imara Stallbaum
Fogos: Antonio Carlos Mafalda