Por Estela Benetti – NSC Total
O médico pneumologista Roger Pirath Rodrigues, do Hospital Universitário da UFSC, em artigo para compartilhar, faz um alerta para a situação brasileira num período maior, até o fim do frio, em outubro, tema pouco abordado ainda nessa quarentena. Ele reforça a importância da disciplina de todos na prevenção para reduzir curvas de pico da doença e assim possibilitar que mais pessoas possam ser tratadas porque o sistema de saúde é limitado.
– No nosso inverno há a possiblidade de efeito rebote ou “segunda onda” – enfatiza o pneumologista.
Leia a íntegra a seguir:
Disciplina para combater o coronavírus
*Por Roger Pirath Rodrigues, pneumologista
Uma análise não discutida nos grupos em quarentena.
Saibam que o número de infectados não muda com as medidas de contenção. O que muda apenas é o pico da curva, que pode garantir o sistema de saúde e reduzir a mortalidade da doença, por meio da maior disponibilidade de leitos e capacidade de atendimento.
As medidas assustam, de certa maneira é bom, mas não é isto que está em jogo. Não é primordialmente a preocupação de você individualmente pegar ou não a doença, e sim o limite da saúde pública, evitando que sejamos contaminados ao mesmo tempo e esta seja sobrecarregada, ocasionando o colapso da saúde.
Não cabe sermos extremamente rigorosos agora e esquecermos o básico de cuidados pessoais. O inverno mal chegou e a contingência rigorosa não durará até lá, até por uma questão técnica epidemiológica e econômica. A mídia deverá reduzir o enfoque gradativamente, porque a Europa chegará em breve no verão e no fim da curva, restando para nós da região meridional, esperar os efeitos do inverno.
Com exceção de Cingapura, não há precedentes de países que descobriram a doença no verão. E lá, a curva foi achatada, provavelmente pelas rigorosas medidas, mas talvez também pelo clima equatorial. Então, no nosso inverno há a possiblidade de efeito rebote ou “segunda onda”.
Saibamos melhor nossos cuidados pessoais e esqueçamos de questionar o vizinho que pode ou não estar doente. Deixe que os médicos e a vigilância epidemiológica cuidem disso. Aliás, como a maioria dos casos serão leves e sequer testados, você mal saberá se realmente é a COVID19.
Esta situação deverá perdurar até outubro de 2020, quando mudará o clima.
Aprendizado de anos assistindo pacientes graves padecendo de gripe, a COVID-19 tem comportamento semelhante, sazonal.
O próprio presidente da república Rodrigues Alves adoeceu por gripe em 1918 em pleno mês de outubro e não pode assumir o mandato, falecendo poucos meses depois.
O que podemos fazer até lá?
Uma dica importante quando o governo reduzir a contingência: Compartilhar menos ansiedade e temor, e mais continuidade e disciplina nos cuidados individuais.
*Médico pneumologista do Hospital Universitário da UFSC e diretor da Associação Catarinense de Pneumologia e Tisiologia (Estudo da Tuberculose)