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[dropcap]O [/dropcap]ex-governador Raimundo Colombo foi ouvido na manhã desta terça-feira (29) pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa que apura possíveis irregularidades nas obras de restauração da Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis. Em pouco mais de uma hora, ele apresentou um histórico de seus atos com relação à obra em suas duas gestões – entre janeiro de 2011 e março de 2018 –, defendeu a rescisão do contrato com o consórcio Florianópolis Monumento e disse ter ajudado a resolver um problema antigo.

“Nós tivemos um corpo técnico muito dedicado e a grande verdade é que resolvemos um problema que se arrastava há décadas e a ponte está praticamente pronta”, destacou Colombo, que foi convidado pela CPI.

O ex-governador apontou dois fatores como responsáveis pelo atraso.  O primeiro foi a falta de dinheiro. “Sem dinheiro, a obra ia se arrastar”, disse. “O Pacto por SC foi o que fez andar”, completou.

O segundo foi, segundo Colombo, a incapacidade técnica do consórcio. “O certo era nem mesmo ter contratado o consórcio. O problema é que a empresa, pelo que a gente sentiu, assumiu muitas obras e não tinha capacidade de tocar todas elas. Infelizmente a única solução era romper o contrato, o que foi um ato de coragem, decisivo para que as obras todas se concluíssem”, afirmou o ex-governador, que garantiu que a nova estrutura tem a mesma capacidade de carga das pontes Pedro Ivo Campos e Colombo Machado Salles.

Questionamentos
Dois pontos se destacaram entre os assuntos levantados pelo relator da CPI, deputado Bruno Souza (sem partido): o aditivo ao contrato assinado em 2012 – quando as obras já estavam em ritmo lento – e o tempo que o governo do Estado levou para rescindir o contrato.

Sobre o aditivo, o ex-governador alegou que foram decisões técnicas tomadas pelo Deinfra e aprovadas pelo colegiado da autarquia. A respeito do tempo que levou para romper o contrato, Colombo argumentou que foi o intervalo necessário para que o Estado se protegesse do risco de uma ação judicial. “Precisamos formar convicção para rescindir com absoluta responsabilidade, para não ficar com um passivo como o da SC-401, que hoje está em R$ 3 bilhões”, explicou.

De acordo com o ex-governador, a decisão de romper o contrato começou a tomar forma a partir de uma visita que recebeu em seu gabinete. Uma mulher – cujo nome disse não se lembrar, mas que seria de uma das empresas que compunham o consórcio – o alertou para o risco de colapso da ponte. Colombo disse ter ficado “assustado com as informações” e que passou a considerar a hipótese de rescisão.

Crise impede contratação de americanos
Em 2015, poucos meses após a rescisão do contrato, uma comitiva do governo do Estado foi a Pittsburgh (EUA) para visitar a empresa norte-americana American Bridge, responsável pela construção da ponte Hercílio Luz, na década de 2910. Lá, discutiram as alternativas mais eficazes para concluir a restauração da ponte e praticamente acertaram que os norte-americanos assumiriam os trabalhos.

“Mas a crise econômica que o Brasil enfrentou, com aumento do risco país, fez com que a American Bridge desistisse da obra”, lembrou.

Segundo o ex-governador, mesmo fora da obra, a empresa norte-americana recomendou a contratação da empresa portuguesa que hoje toca a obra e se colocou à disposição para prestar gratuitamente toda a assessoria técnica necessária.

Importância
Para o relator da CPI, o depoimento do ex-governador foi importante para que os deputados soubessem o contexto político das decisões do governo com relação à obra. “Foi muito importante porque era o chefe do Poder Executivo na época e nos ajuda a construir a nossa tese para chegar à verdade dos fatos”, disse Bruno Souza. Ele revelou que se surgirem dúvidas durante a análise das respostas de Colombo, enviará novas perguntas ao ex-governador, que já se mostrou disposto a responder a estas questões.

De acordo com o parlamentar, a comissão ainda deve ouvir mais um depoimento e passar para a elaboração do relatório final, previsto para ser entregue no dia 2 de dezembro.

Fiscalizado e documentado
Em entrevista antes do depoimento, Raimundo Colombo já tinha dito estar tranquilo quanto ao que enfrentaria e que a obra tinha sido fiscalizada e documentada. “Toda peça que foi trocada tem uma foto, a peça nova tem outra foto, está totalmente documentada”, garantiu.

Sobre a presença na CPI – para a qual foi convidado, e não convocado – Colombo disse estar cumprindo um dever. “Acho que a gente tem que vir sempre que convidado ou convocado e se colocar à disposição para trazer as informações que a gente tem e colaborar na conclusão dessa obra e na entrega dela à população”, afirmou.

Em um rápido balanço sobre sua participação na CPI, o ex-governador se mostrou satisfeito e disse estar “agradecido pela oportunidade”. “Pude trazer uma série de informações, o dia a dia de uma obra tão complexa, e partilhar com eles o sentimento de dever cumprido”, disse.

Colombo, que durante seu depoimento revelou ter recebido um pedido para que não comparecesse à inauguração do novo terminal do aeroporto Hercílio Luz, disse não esperar convite para a festa da ponte. “Para mim é irrelevante. O importante é que a ponte esteja pronta e que a sociedade possa usufruir deste serviço”, garantiu. “Um dia qualquer a gente passa lá e olha, porque ela é muito bonita, e tira uma selfie em cima da ponte”, brincou.

Marcelo Santos
AGÊNCIA AL