A mulher dança entre várias versões dela mesma ao longo do mês, tentar manter uma única face é uma tarefa impossível e exaustiva. Nós mulheres nascemos iguais a todos os seres, mas ao longo do caminhar da vida nos deparamos com várias mudanças, o corpo feminino é vivo por si só. Enquanto o corpo masculino passa por duas ou três iniciações simbólicas em seu ser, o corpo feminino não para. A partir do momento que nosso sangue desce iniciamos uma dança interna, com todas as mulheres que podemos ser, que somos e que estamos deixando de ser a cada dia.
Entramos em um ponto delicado, falar de menstruação em tempos atuais é um tabu e não mais, algo natural. Mulheres menstruam e precisamos entender como isso influencia todas as áreas de nossas vidas. Provavelmente em sua mente passou todos os tormentos de um período menstrual, dor, fadiga, carência, a dieta que foi pro ralo, pois você comeu como uma “louca” nessa semana. Mas hoje venho te contar o princípio dos mistérios do teu corpo e do meu corpo de mulher, que muda ao longo de vinte e oito dias em um ritmo interno perfeito, basta você aprender a ouvir e começar a dançar dentre cada faceta do seu ser interno.
A MENINA
Entramos nesta face, assim que acaba nossa menstruação. Estamos completamente purificadas e renovadas, tanto por fora, quanto por dentro, os níveis de estrógeno começam a aumentar, liberados diretamente pelo nosso cérebro, sim, útero e cérebro caminham juntos para manter um corpo feminino em ordem. Internamente sobrevivemos as dores, renascemos e a sensação é de que temos uma vida toda pela frente, um corpo forte, sem dores, uma pele regenerada, uma juventude que vem de dentro. Entramos em nossa primavera interna, ideias novas surgem, temos mais paciência em aprender, mais vitalidade para fazer o que desejamos e neste momento, desejamos fazer tudo!
Deixe para criar, mudar e tentar coisas novas neste período em que o seu corpo, sua mente e seu espirito estão preparados para ir em frente!
Sei que há situações que não podem esperar, mas o que no mundo de hoje pode esperar? Nessa ânsia de fazer tudo a todo momento, atropelamos a vida. Como dizia minha vó: “Tá com pressa de quê? Não esperou nove pra nascer minha filha?” E já que estamos falando de uma fase de aprendizados, vamos aprender a pôr o NOSSO ritmo na vida que levamos.
A MÃE
Entramos nesta face de mãe, quando iniciamos os processos de ovulação. Aqui, devido a uma carga alta de hormônios estamos inteiramente receptíveis e sensíveis aos estímulos do mundo, sentimos tudo, vemos tudo, percebemos as respirações, os toques, as temperaturas a flor da pele, nada passa desapercebido. Queremos nos comunicar, interagir, estamos expansivas como uma lua cheia e como ela, estamos iluminadas! Atraentes e confiantes, nos permitimos mais, sentimos mais prazer e desejamos dar mais prazer. A energia da mãe é geradora, forte, a plena potência da fertilidade, e aqui não falo apenas no aspecto reprodutor, mas da vida como um todo, nesta fase temos chances maior de atingir objetivos, mudar de casa pela nossa determinação, conseguir um emprego pela comunicação aflorada, fazer novas amizades e ter novos amores devido ao poder magnético que os hormônios causam no olfato do outro. Este período corresponde ao nosso verão interno, menos roupa, mais brilho, calor e vida!
A FEITICEIRA
Aqui chegamos ao nosso amado período pré-menstrual (quase consigo ver você irmã leitora, dando uma risada de deboche). Depois de um pico alto de poder, vem o declínio. Estávamos brilhantes como uma lua cheia e quentes como o verão, agora vamos iniciar o processo de caminhar para a escuridão, reforço que escuridão não é algo ruim, mas algo necessário. Estamos no outono de nosso ser, é no escurecer que descansamos o corpo e deixamos a alma sonhar, por isso esta fase do nosso ser feminino recebe este nome, aqui o corpo físico perde força, pois agora quem nos comanda é o poder psíquico.
Nossa mente fica frenética, lembranças, diálogos internos, vemos o mundo sem a euforia dos hormônios e neste ponto a realidade do que vemos pode ser cruel, não há mais uma máscara bondosa em nossa face e lançamos em tudo o nosso poder de destruição e caos, é muito fácil abrir mão de de relações, situações que lhe incomodam, dar fim a aspectos que a tempos vem lhe pesando por dentro. Estamos mais voltadas para nós mesmas, nos defendo a todo custo e neste aspecto deixamos ir, com mais facilidade.
A feiticeira é aquela que transmuta, não é uma fase confortável, mas ela é extremamente necessária, é aqui que fica evidente nossas fraquezas, nossas relações infrutíferas, nossos traumas. Eu indico que tenhamos um caderno para anotar todas as dores que se apresentam neste período, pensamentos repetitivos, angustias, lembranças. Para que se possa ter mais nitidez dos padrões que sempre se repetem e buscar os seus porquês. Indico também que não lute contra este seu aspecto, deixe fluir, sinta a tristeza e chore cada lagrima, se recolha, não atenda o telefone, não faça o que não quer e deixe a raiva emergir das últimas forças que te restam, grite ao mundo tuas cicatrizes, nem que seja com um travesseiro abafando teus gritos, mais grite! Abrace suas sombras ou ela vai te sufocar.
A ANCIÃ
Um aperto forte em nossas entranhas anuncia a purificação de todas as partes do nosso ser feminino. O útero te obriga a simplesmente parar, o corpo fica lento, inchando, dores te chamam a ouvir o teu corpo que clama por recolhimento, estamos no inverno interno. Porém, mesmo com dor e sem forças, você não quer parar ou na maioria das vezes, não pode parar e esse corpo esgotado e dolorido se torna uma maldição em sua vida, não é mesmo?
O sangue menstrual é uma benção de vida, sempre que ele vem é um sinal da tua vitalidade, um lembrete do poder de gerar uma vida assim como uma Deusa e de que tua saúde de mulher está em ordem. Palavras bonitas… Mas sei que de nada importa o que eu diga se você ai do outro lado, não se dispor a compreender o corpo de mulher que possui. O corpo masculino é linear, como sol, ele segue uma linha reta de nascer e morrer, mas o nosso corpo feminino é cíclico em configuração física, mental e espiritual. Enquanto nós mulheres tentarmos nos encaixar em um modelo de existir que não é o nosso, que não sangra, que não pare, que nada sente, a dor só vai aumentar, como tentar usar um sapato pequeno demais para um pé grande.
No inverno interno, a mulher se despede de uma vida que não foi gerada. Por isso nos dói tanto, é o corpo expulsando a morte de dentro nós, morte física do filho que não veio, morte mental das ideias que não foram a diante, morte espiritual da mulher que encerrou mais um ciclo de crescimento, vida e morte. Renascer dói, mas é uma benção poder viver várias vidas numa só. O sangue menstrual vem como símbolo de morte e vida que o corpo feminino por si só carrega com maestria sem igual.
Mais uma vez eu repito: Você e eu, somos cíclicas. Existem muitas versões de nós, filha, mulher, vó, e cada uma delas precisam de um espaço para existir ou então nos tornamos frustradas e incompletas, com uma tristeza que não se entende, uma falta que nunca se completa. É necessário aprender a conviver com nos mesmas com nossas dores e facetas, caso contrário, como podemos esperar que o mundo lá fora te compreenda e te ouça, se nem você tira tempo para compreender tuas dores e ouvir teu corpo.
Agora me diga, você sabe em qual momento está o seu ser?
Onde e porque o teu corpo dói?
Você vem entregando ao seu ser o que ele precisa, ou está só forçando para que continue a funcionar?
Qual é o teu ritmo?
Ainda se lembra como é dançar com a vida?
Estamos juntas!Eu sou você e você sou eu.
Até a aproxima hermanita!
Karoline Farias, Espaço Holístico Saber Ancestral