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O governo de Santa Catarina informou nesta quinta-feira (25) que o decreto de estado de emergência fitossanitária por parte do Ministério da Agricultura (Mapa) sobre a nuvem de gafanhotos que está na Argentina e avança sobre o Brasil reconhece um risco potencial, mas que considera pequena a chance de os insetos chegarem ao estado catarinense. Com o avanço da frente fria, a chuva mudou o rumo foi alterado e a nuvem deve permanecer na Argentina.

“A decretação permite a adoção de medidas mais flexíveis pra uma eventual necessidade de contratações emergenciais. Esta é uma medida preventiva para dar mais segurança e agilidade aos estados na tomada de decisões”, explicou o secretário-adjunto de Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural de Santa Catarina, Ricardo Miotto.

 

O governo do estado monitora a situação e disse que está em contato com o Serviço Nacional de Segurança e Qualidade Alimentar da Argentina (Senasa), Ministério da Agricultura do Brasil e Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul.

Também informou que não há necessidade de ação preventiva por parte dos agricultores e pede que eles não usem agrotóxicos de forma indiscriminada, já que podem atingir insetos polinizadores.

Trajetória dos gafanhotos, segundo especialista do Governo de SC — Foto: Kleber Trabaquini - Epagri/CIRAM

Trajetória dos gafanhotos, segundo especialista do Governo de SC — Foto: Kleber Trabaquini – Epagri/CIRAM

Sobre a distância da nuvem, as informações atuais, de acordo com o Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentares da Argentina (Senasa) e Ministério da Agricultura, a praga está se dirigindo rumo ao Sul da Argentina em direção ao Uruguai.

“Até o momento é pouco provável que essa nuvem de gafanhotos chegue a Santa Catarina, ainda mais com as condições climáticas da Argentina, com previsão de chuvas fortes e temperaturas abaixo de 10ºC, o que dificulta sobremaneira o avanço dos insetos”, afirmou Miottto.

Segundo a Defesa Civil Estadual, as estruturas do órgão como radares vão ser utilizados para avaliação. “Se for necessário, os alertas antecipados vão ser realizados pela Defesa Civil. Nós pedimos para que a população não fique em pânico com relação a isso porque estamos monitorando e vamos dar informações com antecedência”, disse o secretário João Batista Cordeiro Jr.

As nuvens de gafanhotos podem deslocar-se por dezenas de quilômetros, influenciadas pela temperatura e direção do vento. Por isso, o meteorologista Leandro Puchalski, da NSC Comunicação, também considera remotas as chances de os insetos irem para Santa Catarina.

“A nuvem está na região entre Argentina, Brasil e Uruguai, está muito longe do Oeste de Santa Catarina. Não há indicativo que venha para cá, vai encontrar condições meteorológicas desfavoráveis para ele”, disse.

Os gafanhotos são da espécie Schistocerca cancellata e já chegaram a percorrer quase 100 km em um dia. A nuvem tem uma extensão que pode atingir 10 quilômetros e uma densidade populacional de até 40 milhões de insetos por quilômetro quadrado, consumindo o suficiente para alimentar aproximadamente 35 mil pessoas.

Formação das nuvens

Nuvem de gafanhotos ataca lavouras na Argentina — Foto: Divulgação/Governo da Província de Córdoba

Nuvem de gafanhotos ataca lavouras na Argentina — Foto: Divulgação/Governo da Província de Córdoba

Conforme o doutor Alex Sandro Poltronieri, professor do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o início de uma nuvem de gafanhotos ocorre devido a condições climáticas favoráveis, porque populações de insetos são afetadas por fatores como temperatura e chuvas.

“Neste sentido, é possível que devido ao inverno amento, com temperaturas elevada para o período e os baixos índices pluviométricos possam ter contribuído para o surgimento de elevadas populações de gafanhotos. Entretanto, este não é o único fator, pois a ação humana pode ter sua parcela de culpa devido a destruição de habitats naturais e uso abusivo de pesticidas que podem eliminar os inimigos naturais destes gafanhotos”, explicou.

Conforme o especialista, os gafanhotos são considerados pragas agrícolas relevantes em algumas localidades, como na África, onde várias espécies formam agregações que invadem extensas regiões, abrangendo diversos países, mas agregações do inseto já foram registradas em outros continentes.

“Na América do Sul há registro de espécies de gafanhotos gregários na Argentina, Paraguai, Bolívia e Brasil. No cerrado brasileiro há a ocorrência da espécie Rhammatocerus schistocercoides, que devido ao hábito gregário, causa danos significativos em plantas cultivadas e nativas, com registro de até 250 indivíduos por metro quadrado”, afirmou.

Ataques a lavouras e ‘panelaço’

Poltronieri disse ainda que na região Sul do Brasil há registros de agregações de gafanhotos em municípios dos três Estados, e que houve ataque a lavouras de arroz nas décadas de 1930 e 1940, com até mesmo registro de ‘panelaços’ da população para tentar espantar os insetos.

“Em algumas situações, estes eventos se tornaram familiares com centenas de pessoas parando suas atividades para presenciar a passagem dos insetos, como em 1916, quando gafanhotos ‘invadiram’ a cidade de Irati [PR], ou em 1906 e 1916 quando Joinville teve suas ruas tomadas por centenas de gafanhotos, com relatos de ”panelaços’ de moradores com a intenção de afugentar os insetos que chegavam a cidade vindos da Argentina, após entrarem em território brasileiro pelas fronteiras com o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná”, disse o pesquisador.